A jornada da mulher na tecnologia começa difícil. Diante de tão poucas iguais a si na sala de aula, se torna inevitável a pergunta “esse lugar é para mim?”. Essa pergunta, que inicialmente é feita em faculdades e espaços de ensino, também é repetida em outros momentos e locais. Quando vemos a história de mulheres na computação, nos deparamos com um cenário de mulheres responsáveis por criarem toda a base que possuímos hoje. Hoje, os cursos de computação e o mercado de trabalho são dominados por homens e as mulheres são minoria, mas a realidade nem sempre foi essa. Na década de 70, a representatividade feminina nos cursos de Computação era muito maior que a masculina. Um exemplo é a primeira turma do curso de Ciência da Computação do Instituto de Matemática e Estatística (IME) de 1971, que contava com 70% de alunas mulheres. Já em 2016, elas representavam 15%.
Os desafios são muitos já que as mulheres precisam constantemente reafirmar uma frase ou são interrompidas durante um atendimento, minando a confiança e aumentando as taxas de desistência nos cursos voltados às tecnologias e diminuindo cada vez mais candidaturas a vagas de emprego. Infelizmente é comum encontrar mulheres no mercado de trabalho que sofrem com situações parecidas com estas. O sentimento de insegurança é muito presente mesmo em mulheres que têm uma carreira solidificada e são bem sucedidas, seja por receio de não serem boas o suficiente ou por medo de sofrerem assédios.
O empoderamento feminino na área de TI é cada vez maior, mas seu crescimento ainda é tímido. A pouca representatividade da mulher nessa área do mercado de trabalho é reflexo de uma construção social. As carteiras das salas de aula das universidades de tecnologia são ocupadas, majoritariamente, por homens. Nelas, segundo levantamento do Censo da Educação Superior, a proporção é de 3 homens para cada mulher. Não falta vontade ou tentativas. Uma das causas para essa pouca participação é encontrado através dos incentivos da infância e adolescência. Meninos têm o raciocínio lógico estimulado pelos pais por meio de jogos eletrônicos, raciocínios matemáticos e blocos com desafios de montar, por exemplo. De modo geral, na mesma infância, as meninas não são estimuladas a brincar com jogos lógicos, números e outros que despertam o desejo futuro de programar. E em muitos casos ainda, são incentivadas a brincar com elementos que as aproximam da vivência materna, cercadas por bonecas, além ainda de peças de casinha e brincadeiras relacionadas ao trabalho doméstico. Além disso, o fato da área ser majoritariamente masculina colabora para que meninas não se imaginem exercendo a profissão.
O empoderamento feminino na área de TI precisa ser estimulado, principalmente por meio de políticas inclusivas das empresas. Limitar o campo de trabalho em tecnologia para o homem faz com que todos percam, principalmente a área é preciso permitir um ambiente favorável para que elas possam se desenvolver. Habilidades e competências vindas de pessoas diferentes estimulam processos inovadores, além de engajar equipes, pois cada um tem seu conjunto de vivências que garantem pontos de vista e atitudes distintas. Promover o empoderamento da mulher na área da tecnologia é um passo fundamental para quebrar resistências, ideias ultrapassadas e estereótipos que não contribuem para o desenvolvimento da sociedade. No entanto, incentivar esse empoderamento não significa apenas criar uma grande ação. Discutir o assunto no ambiente de trabalho, rever processos e estimular a equidade de gênero nas relações são formas de contribuir.
A cultura de que conhecimento tecnológico faz parte do universo masculino pode ter contribuído com que muitas mulheres se afastassem dessa área ao longo dos anos. Hoje, o número de mulheres que trabalham no setor é pequeno. De acordo com dados da organização Grils Who Code, 74% das meninas demonstram interesse pelas áreas de ciência, tecnologia, engenharia e matemática, no entanto, apenas 0,4% delas escolhe seguir carreira na ciência da computação. No Brasil, o número de cursos de computação cresceu 586% nos últimos 24 anos, no entanto, o índice de mulheres matriculadas neles caiu de 34,89% para 15,53%.